sábado, 30 de março de 2013

sábado, 23 de março de 2013

Múltiplo amor








O teu rosto, meu amor,
sim, o teu rosto,
o mesmo que eu toco sem ferir a atmosfera
(porque o meu toque não entende das coisas do tempo nem do espaço),
o teu rosto
se renova...
toda vez que as minhas mãos se dão conta
de um pedaço teu que eu ainda não tinha visto,
quando o meu ponto de vista se move de tal maneira que
uma nova cor tua se sobrepõe às permissões do quadro.
É por isso que o nosso amor tem muitas faces.
Eu já te amo,
e em ti, depois, surgem outros...
Passo a amar a todos que presencio.
Cumulativamente.
Amo o antigo, o mutável, amo o novo.



Poema: Elaine Regina


Imagem: autor desconhecido

 

© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional

sábado, 16 de março de 2013

O inverso








O homem dos meus sonhos nasceu ao contrário:
primeiro veio a existir,
depois – somente depois – foi pensado.
Primeiro, vestiu-se com a armadura da carne
e mobilizou toda a sua estrutura óssea,
somente depois é que entrou, sutil e vaporoso,
na medida exata dos meus sonhos.

Eu não o sonhei. Foi ele que atravessou
as letras na tela de vidro
– a possibilidade armazenada –,
os círculos formados
pela sinuosidade das palavras.

Nos arredores do pensamento,
não havia nem sinal da sua matéria,
mas a matéria despiu-se da matéria
e subiu os degraus,
até o convés
do pensamento.
                          

Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido


© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional 




sábado, 9 de março de 2013

Às vezes, o frescor de um sentimento







Às vezes, o frescor de um sentimento

corre triste o contorno da alvorada,

espreitando em silêncio a madrugada,

da janela dos próprios pensamentos.




Desce a noite, decresce o firmamento,

num tapete de estrelas naufragadas

que flutuam pequenas, peneiradas, 

como areia infinita em movimento.




Num lençol cristalino de águas mansas, 

pés libertos escrevem linhas finas 

que brilham mais que a prata das lembranças.




É um andar de belezas pequeninas,

na direção de breves esperanças

que se escondem atrás de grandes sinas.



Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido



© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional  

sábado, 2 de março de 2013

Erros










Errei.
E os meus erros comeram,
à luz das janelas ausentes,
partes gigantescas do meu corpo.



Os erros — céleres cupins,
magos
tão velhos quanto o primeiro esboço da natureza humana —,
penduraram à parte,
na parede de menor notoriedade,
as leis da Física,
pois os trechos esburacados por eles
conseguem ser sensivelmente mais pesados
do que as partes cuja inteireza foi mantida.
E é por isso que eu peso mais a cada hoje...

 
Por vezes,
gasto parte do meu tempo a observar toda a renda complexa dos erros.
E o trabalho não ficou de todo ruim:
Ganhei milhares de janelas...


 

Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido




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Atualizado em 22/12/2013