sábado, 29 de setembro de 2012

Teu amor aprofundou os meus olhos






Não te conheço através das vias do palpável,
mas conheço-te por vias ainda mais reais,
que menosprezam a certeza do concreto.

Tu fizeste da flor pequena que eu era
uma flor de hastes bem maiores
quando me confiaste a semente dos horizontes
e tiraste o véu das janelas ocultas,
para que eu percebesse o quanto as perspectivas mudam
a depender do olhar que despertamos.

Apontaste para os cantos do meu ser
e mostraste que as cordas tecidas
para assegurar a firmeza das mãos
podem estrangular a vivacidade dos dedos.


Conjuraste o encantamento dos amores,
e os teus lábios prontamente ignoraram
qualquer distância pretensamente verdadeira.
Teu amor aprofundou os meus olhos,
e hoje eu vivo a impulsionar
as margens do meu infinito.


Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido


© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional  

sábado, 22 de setembro de 2012

O teu toque




O teu toque, cavaleiro,
é um dedilhar de prata derramada, 
que preenche lentamente as reentrâncias
do véu hesitante dos meus sonhos.


É a marcha nupcial que as estrelas
colhem dos olhos da lua,
em meio a gestos camponeses que se levantam
e tecem guirlandas de flores esculpidas.


Nas tuas mãos de cálice romano,
bebo a ânsia de querer-te na garganta
a deslizar, com aderência extrema,
na solidez nua das paredes
que tenho erguidas em mim.



Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido



© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional    

sábado, 15 de setembro de 2012

Se o meu cansaço falasse








Se o meu cansaço falasse, os ouvidos da Terra (e os distantes da Terra) [morreriam. 
Tamanho seria o grito libertado.
Bom, talvez não houvesse, de fato, tantas mortes... e os ouvidos apenas
se deitassem resignados sobre a relva
(numa espécie de procissão estática)
para aguardar o final do monólogo monótono
(e interminável...)
do meu cansaço.
Bom, talvez isso também não acontecesse... e eu
tivesse que suportar sozinha
o meu cansaço a tagarelar exaustivamente e a retirar do anonimato
cada canto meu que permaneceu ajoelhado,
repleto de umidade e afastado da luz.


É...


Ainda bem que o meu cansaço não fala...






Poema: Elaine Regina

Imagem: autor desconhecido


© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional

sábado, 8 de setembro de 2012

Encontro





Fui noiva muitas vezes, mas não casei.

Numa dessas vezes em que eu chorava fiapos velhos de noiva abandonada,

bem em frente à igreja dos sonhos,

eu te vi...

enfurnado no teu terno de homem sério,

um morador assumido (e equilibrado)

do caimento elegante da cordialidade.

Tu te aproximaste, sentaste ao meu lado

e...

aos poucos, tu me cedeste um ramo de pousadas mansas...

e nem percebíamos que os lagos já brotavam,

numa reunião de sentimentos que esperavam

pa-ci-en-te-men-te

o rebentar das últimas fronteiras.




Fronteiras quebradas... caminhamos...

Uma imagem de casal seguia até o fim da rua.

Não sabíamos,
mas já levávamos em nós as alianças...






Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido


© Todos os direitos reservados - registrado no EDA/Fundação Biblioteca Nacional