sábado, 24 de novembro de 2012

Parentesco









Às vezes, o vento é tão sutil, tão discreto
que é preciso uma atenção multiplicada para senti-lo,
para percebê-lo.
Mas eu vejo quando ele sinaliza com as folhas das árvores,
quando ele as balança distraidamente,
quase como se não quisesse balançá-las.
Eu sei o que se passa nessas horas:
o vento é amortecido pela própria nostalgia,
pela falta que sente da terra dos seus iguais.
Sei bem como ele se sente...
Também sinto essa mesma falta.
A diferença é que eu passo a vida,
a vida distante dos meus iguais,
tocando outras (infinitas) folhas.



 
Poema: Elaine Regina
Imagem: sadness by janesdead


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sábado, 17 de novembro de 2012

Enlace de carinhos






Oh, meu lírio de veias flamejantes,
meu poeta vestido de armadura
que, numa fenda em mim de tal fundura,
derrama borboletas delirantes!


Com palavras unidas feito amantes,
fazes rendas perfeitas de doçura...
E, arrebatada, eu beijo com loucura
este enredo febril dos navegantes!...


Vou prender o frescor dos teus cabelos,
guardar a ponta aberta dos teus ares
e sorver o cetim dos teus apelos!...


Pegarei cada flor dos teus pilares...
Quero ter os teus olhos e bebê-los...
Ser um verso cantado por teus mares!

Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido



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Atualizado em 22/12/2013

sábado, 10 de novembro de 2012

Difícil explicar







Difícil explicar por que gosto tanto de conversar com a madrugada.
Deve ser porque ambas somos caladas
– irremediavelmente caladas.
Além disso,
é enquanto as pessoas dormem, cegas, enterradas em seus pequenos mundos,
que nós duas mais vivemos.


Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido




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sábado, 3 de novembro de 2012

Foi o sentir da tua presença






Foi o sentir da tua presença em pensamento
que afugentou as sombras tristonhas
postadas em volta do meu ser caído.

Foi esse pouso de calma do teu peito,
do teu corpo estendido na imagem levantada
pela vontade perene dos meus olhos,
que recebeu o desaguar exausto
das angústias insones da minha alma.

Do meu deserto de dúvidas firmadas,
entendi que a vida só pode persistir
além do fechamento irreversível dos olhos:
porque um amor como o nosso
não cortará os próprios passos
ao perceber a mão suspensa da morte.
Simplesmente sorrirá para o sinal avistado
e continuará andando...


Poema: Elaine Regina
Imagem: autor desconhecido



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